top of page

As Ciências Humanas

Designamos, sob rubrica de ciências humanas, o conjunto das disciplinas que tem por objeto o estudo das altitudes, dos comportamentos humanos. A História, a Sociologia, a Psicologia, a Geografia humana, a Economia política, são ciências humanas”.

 

Às vezes, essas disciplinas ainda são denominadas ciências morais. Tal expressão tinha a vantagem de indicar que essas ciências tratam de produtos da atividade mental do homem e não têm por objeto o estudo do organismo humano (que pertence ao campo da fisiologia).

 

Mas essa expressão é equívoca. Pode conduzir-nos ao erro, fazendo-nos confundir dois domínios bem distintos, o das ciências humanas que, precisamente, estudam a atividade humana como um fato, e o da moral, disciplina filosófica (e não científica) que se interessa pelo valor dos atos humanos (considerados como bons ou maus).

 

Serão possíveis as ciências do homem? Isto é, o homem, autor das ciências, pode, por sua vez, ser considerado como objeto da ciência? Alguns declararão que esta questão prévia é vã. Em pleno século XX a sociologia, a economia política, a psicologia, não têm a seu favor suficientes trabalhos e resultados para que se deixe de lhes contestar o direito à existência? Mas, se a psicologia, a sociologia, a economia, a história, existem, incontestavelmente, sob a forma de disciplinas organizadas, não devemos perguntar a nós mesmos em que medida elas são disciplinas realmente científicas, quais as suas relações com as ciências da matéria, qual o estatuto epistemológico que lhes convém?

 

É A HISTÓRIA UMA CIÊNCIA?

Três objeções essenciais são feitas à pretensão da história em se constituir como ciência: inicialmente, diz-se, não há observação direta do fato histórico, visto que a história é definida como o conhecimento do passado (e, num sentido mais estrito, do passado humano) e o passado é, por essência, o que não mais existe. Em seguida, mesmo que um conhecimento do passado seja possível indiretamente, este conhecimento será subjetivo. O historiador é o homem de uma época, de um país, de uma classe. Ele só dará vida ao passado projetando-se nele com seus valores e preocupações contemporâneas. Finalmente, sendo impraticável a experimentação em história, jamais o historiador poderá chegar a formular leis; historiador narra, não explica.

 

A SOCIOLOGIA – DEFINIÇÃO E ORIGEM

Augusto Comte introduziu, em 1839, o termo sociologia. Designa por essa palavra, uma ciência positiva (do qual se considera fundador): a ciência dos fatos sociais, isto é, das instituições, dos costumes, das crenças coletivas. Havíamos mostrado que a história científica é sociológica porque tende a explicar os acontecimentos particulares a partir das grandes estruturas de um grupo social. Não se deve, entretanto, confundir história e sociologia: mesmo que a explicação histórica utilize a casualidade sociológica, o objeto da história não deixa de ser o estudo dos acontecimentos particulares no seu desenvolvimento temporal, enquanto a sociologia se aplica aos fatos sociais gerais.

 

A reflexão sobre os fatos sociais é muito antiga. Pode-se evocar Platão e Montesquieu (primeiro a afirmar, claramente, que os fatos sociais obedecem a leis necessárias). Mas é no século XIX, inicialmente com Augusto Comte, e em seguida com Durkheim (1858 – 1917), que a sociologia se constitui como ciência.

 

Enquanto Augusto Comte instaura a sociologia para pesquisar o fundamento de um novo “poder espiritual”, a sociologia durkheimiana esforça-se por ser uma resposta à inquietação das elites francesas após o desastre de 1870 (Guerra Franco-Prussiana). E, mais geralmente, são o individualismo do mundo moderno e as dificuldades dele decorrentes que suscitam as pesquisas de Durkheim (dirigidas ao problema da solidariedade, da coesão dos laços sociais). O nascimento das sociologias é, portanto, segundo a feliz expressão de Monnerot, “um dos sinais clínicos da dissolução social que elas tendem a deter”.

 

Durkheim quis fazer da sociologia uma disciplina objetiva e positiva do mesmo nível das ciências da natureza. Daí seu princípio fundamental (tão bem definido em sua obra: As regras do método sociológico): é preciso “considerar os fatos sociais como coisas”.

 

Compreendamos bem essa fórmula. Durkheim não faz, aqui, profissão de fé materialista: ele não quer dizer que as leis que regem os fenômenos sociais são as mesmas que governam o mundo das coisas materiais. Muito ao contrário, Durkheim não deixou de sustentar a originalidade e a especificidade do fato social que, segundo ele, não se reduz ao fato biológico, nem ao fato psíquico (um grupo de homens não se comporta absolutamente do mesmo modo que cada um de seus membros ao proceder isoladamente).

 

 

  • Facebook Classic
  • Twitter Classic
  • RSS Classic

© Ciências Sociais 2016

bottom of page